sábado, 30 de abril de 2016

Ensino da Música a Crianças aumenta o desempenho escolar

Estudo levado a cabo pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, conjuntamente com o Instituto ABCD (que estuda, identifica e trata os distúrbios da aprendizagem), encontrou várias evidencias do efeito positivo do ensino da musica em crianças dos 8 aos 10 anos, contribuindo em larga escala para o processo de leitura das mesmas.
Como refere o investigador e autor do estudo, Hugo Cogo Moreira,"Nunca essas teorias foram testadas dentro da sala de aula. Por isso, tudo o que tínhamos até agora era puramente teórico. Essa falta de evidências me levou a encabeçar o primeiro estudo clínico sobre o assunto."

Para este estudo, Moreira selecionou dez escolas da rede pública de São Paulo. Em cada uma delas, participaram do experimento 27 estudantes com idades entre 8 e 10 anos que comprovadamente apresentavam dificuldades de leitura. As instituições foram então separadas em dois grupos: o primeiro, chamado intervenção, recebeu aulas de música três vezes por semana durante cinco meses; o segundo, chamado controle, não recebeu nenhum tipo de atenção especial. A função do segundo grupo é servir de base para comparação.

Nas escolas do primeiro grupo, as aulas foram ministradas por dois professores. A preocupação era garantir que as lições não seriam interrompidas - quando um professor faltava, havia outro profissional de plantão. Os docentes também foram avaliados a cada 15 dias pela equipe da Unifesp para garantir que as aulas seguiam os mesmos padrões em todas as escolas, evitando assim que um determinado grupo de alunos fosse privilegiado ou prejudicado involuntariamente. Em sala, as crianças foram estimuladas a compor, cantar, improvisar e fazer exercícios rítmicos utilizando uma flauta doce barroca, principal instrumento usado na pesquisa.

Ao fim da investigação, foram feitas duas análises dos dados. Na primeira, as crianças que tiveram aulas de música foram comparadas àquelas que estavam nas escolas-intervenção mas que não compareceram a nenhuma aula. Os alunos que assistiram a todas as aulas foram capazes de ler corretamente, em média, 14 palavras a mais por minuto, demonstrando maior fluência. Além disso, foi constatado que, a cada bimestre, a nota final na disciplina de português dessas mesmas crianças aumentou em média 0,77 ponto, o que significa mais de 3 pontos ao fim de um ano letivo. Em matemática, o crescimento registando foi um pouco inferior, mas igualmente significativo: 0,49 ponto a cada bimestre, ou 1,9 ponto ao fim do ano.

Na segunda análise conduzida por Moreira, o estudo comparou as crianças das escolas-intervenção com as das unidades-controle. Os resultados foram menos expressivos do que os da primeira análise, mas apontaram igualmente para uma melhora no desempenho académico. As notas de matemática e de português subiram, respectivamente, 0,25 e 0,21 ponto por bimestre, ou 1 e 0,8 ponto até o fim do ano letivo. Houve melhora também no tocante à leitura: as crianças do primeiro grupo leram corretamente 2,5 palavras a mais por minuto. "Por se tratar de um estudo pioneiro, ele não é conclusivo em relação ao impacto real das aulas de música, mas certamente oferece indícios fortes o suficiente para que novas pesquisas investiguem a fundo o tema".


Já anteriormente Nina Kraus, diretora do Laboratório de Neurociência Auditiva da Universidade Northwestern, avaliou alunos de 6 a 9 anos, de famílias de baixa rendimento, considerados com maior risco de desenvolver problemas de aprendizagem, que participaram num programa gratuito de música, chegando á conclusão que as crianças que completaram dois anos do ensino musical apresentaram diferenças neurofisiológicas em regiões relacionadas à descodificação de sons, mecanismo neural subjacente a habilidades linguísticas. Segundo Nina:“É a primeira evidência direta de que programas educacionais de música podem aprimorar o processamento neural da fala em crianças em risco, sugerindo que o envolvimento ativo e frequente com os sons pode mudar a função neural”.


Fonte: Veja.com e Revista NeuroEducação


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