sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Resultado das candidaturas ao Programa Escolas Bilingues/Bilingual Schools Programme

Concluído o processo de candidatura ao Programa Escolas Bilingues/Bilingual Schools Programme, em Inglês, para agrupamentos de escolas/escolas não agrupadas do território continental, a Direção-Geral da Educação (DGE) divulga os resultados.


Foram selecionados para desenvolver o Programa Escolas Bilingues/Bilingual Schools Programme, em Inglês, em 2016/2017, os seguintes agrupamentos de escolas/escolas com o seguinte âmbito:

AE Gardunha e Xisto, no 1.º e 2.º CEB, em 2 escolas (EB1 N. Sra. do Rosário e EB da Serra da Gardunha);

AE António Nobre, na educação pré-escolar e no 1.º e 2.º CEB, em 2 escolas (EB1/JI do Monte Aventino e EB da Areosa);

AE José Estêvão, no 1.º e 2.º CEB, em 3 escolas (EB1 Solposto, EB1 S. Bernardo e EB2 S. Bernardo);

AE de Valadares (V.N. de Gaia), na educação pré-escolar e no 1.º e 2.º CEB, em 2 escolas (EB da Junqueira e na EB 2/3 de Valadares);

AE de Marco de Canavezes, na educação pré-escolar, em 2 jardins de infância (JI do Ramalhais e EB1/JI da Carreira);

No AE de Santo André (Barreiro), na educação pré-escolar, num jardim de infância (EB1/JI Telha Nova 1);

AE de Samora Correia (Benavente), na educação pré-escolar, num jardim de infância (JI Prof. António José Ganhão);

AE Marinha Grande Poente, na educação pré-escolar, num jardim de infância (EB da Várzea);
AE de Idães (Felgueiras), no 2.º CEB, numa escola (EBS de Idães);

AE de Valongo, no 1.º CEB, numa escola (EB1 de Campelo);

No AE de Campo (Valongo), na educação pré-escolar, num jardim de infância (Escola da Azenha).

Link para histórico da candidatura http://www.dge.mec.pt/noticias/linguas-estrangeiras/candidatura-ao-programa-escolas-bilinguesbilingual-schools-programme

Para esclarecimentos adicionais sobre o Programa e/ou os resultados da candidatura, poderá contactar a DGE, através do email dsdc@dge.mec.pt ou do telefone 21 393 45 59.

Fonte: DGE

Sugestões de como estabelecer regras com as crianças

"Tudo o que é pequenino tem graça, mas quando a pequenada se apercebe que tem vontades próprias, a graça pode transformar-se em desgraça! Falamos, naturalmente, das fases das birras, das crianças mimadas e incontroláveis que não nos dão descanso. Como qualquer ser humano, também os miúdos necessitam de regras básicas para poderem explorar e vingar no seu pequeno mundo… sem deixar os pais à beira de um ataque de nervos.



A importância das regras e dos limites

O pediatra norte-americano Berry Brazelton afirma que “para as crianças crescerem bem, precisam apenas de amor e limites” – o amor é fundamental para crescer com confiança e auto-estima; os limites são cruciais para a criança aprender o autocontrolo, para que possa viver em família e em sociedade. Ou seja, no que toca às regras de comportamento lá em casa (e fora dela!) é realmente de “pequenino que se torce o pepino”. A educação começa em casa e não tem de se sentir culpado por ser demasiado rigoroso – as crianças tornam-se adultos equilibrados porque viveram com regras e limites, não ao contrário.

Poucas e boas

Estudos de comportamento infantil revelam que as crianças respondem muito bem a regras, desde que sejam simples e limitadas em quantidade. A partir do momento em que a criança seja crescida o suficiente para perceber entre o que está certo e errado, estabeleça as regras que sejam adequadas à sua idade, de forma clara e uma de cada vez, para não as confundir. É melhor memorizarem poucas do que nenhumas. Sem perder a autoridade ou fazer muitas cedências, tente manter alguma flexibilidade: por exemplo, ao explicar à criança esta ou aquela situação, dê-lhe três possíveis cenários, pedindo-lhe que dê a sua opinião sobre qual o caminho certo a seguir. Para além de a envolver e fomentar a sua independência, torna a imposição de limites menos rígido e menos “pesado”, sendo a “negociação” a forma mais fácil de fazer com que os miúdos aprendam a respeitar as regras. Claro que estabelecer e impor limites aos seus pequenos anjos vai, por vezes, custar-lhe (é um sentimento normal), não vai ser fácil e demorará o seu tempo. Mas a paciência, o amor e a aprendizagem conjunta vão dar uma ajuda preciosa.



Como estabelecer regras

Quando quiser implementar uma regra, fale com a criança calmamente, explicando o que pretende da forma mais clara possível, perguntando-lhe várias vezes se tem dúvidas. Explique-lhe, de igual modo, quais as consequências do não cumprimento das regras. Os “castigos” devem ser bem claros e executáveis, ou seja, não diga que a vai privar de ver televisão uma semana se sabe que nunca terá a coragem de o fazer. Dê-lhe alguma liberdade dentro do cumprimento das regras, ou seja, se sabe que às 21h00 tem de ir para a cama e tem de lavar os dentes e arrumar os brinquedos antes de ir, deixe-a escolher o que quer fazer primeiro. As regras também podem ser divertidas!

Portei-me mal!

Se a criança “ameaça” não cumprir uma das regras, dê-lhe um aviso de 5 minutos, falando calma mas seriamente e lembre-lhe as consequências. Depois de verificar que a regra não foi cumprida ou foi parcialmente cumprida, pergunte-lhe porque é que não o fez, explique-lhe como é que se faz (no caso de ter tido alguma dificuldade) ou ajude-a a terminar a tarefa, dizendo que para a próxima já vai conseguir fazê-la sozinha. A forma mais fácil de uma criança se tentar livrar de cumprir as suas regras é fazer uma birra, no entanto, os adultos nunca devem ceder às birras infantis. Se chegar ao ponto que o castigo é necessário, não hesite em cumpri-lo, ou seja, não mude de ideias, não altere o castigo “prometido” – de outra forma, pode passar a ideia de que as consequências não são reais e tanto faz cumprir ou não as regras.

Portei-me bem!

Não se focalize demasiado no mau comportamento e procure dar igual atenção ao bom comportamento. Quando a criança arruma os seus livros ou lava as mãos sem ninguém lhe dizer nada, elogie-a e dê-lhe mimos – não há nada que as crianças gostem mais do que ser alvo da atenção dos pais (por bons motivos claro!), por isso, é natural que continuem a portar-se bem, só para continuarem a chamar a sua atenção. Quando a criança se portar bem e pedir alguma coisa com calma e educação, pondere fazer-lhe a vontade."





Texto retirado por completo do site: http://pequenada.com/

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Sugestões para que as crianças tenham um bom comportamento na escola

Sabemos que nem todas as crianças são iguais, nem o seu comportamento o mesmo, sendo que algumas crianças têm um comportamento menos exemplar. Isso leva a que afete a sua aprendizagem, a sua relação com colegas, professores e outros funcionários da escola. 



Deixo aqui 7 dicas para lidar com o mau comportamento das crianças na escola, com base no artigo do site pequenada.com:

1. Permanecer em contacto com a escola
Os encarregados de educação deverão estar sempre em constante comunicação com a escola, de modo a que os professores possam comunicar quaisquer problemas relativos ao comportamento das crianças em ambiente escolar. No geral, deverão estar sempre informados sobre os comportamentos das crianças quando estas estão longe dos seus olhos.


2. Estar em contacto com as crianças
De modo a que as crianças compreendam que se deverão comportar em todos os momentos, é importante que os encarregados de educação comuniquem com elas, ficando a par de todos os problemas que possam acontecer na escola. Assim, as crianças sentir-se-ão mais à vontade para falar dos seus problemas e os encarregados de educação conhecerão a versão dos petizes como a dos professores.


3. Dar educação em casa
As crianças deverão ser educadas em casa, aprendendo a ser melhores pessoas em todos os locais e circunstâncias. A educação é muito importante e não deverá esperar-se que a escola trate desse assunto. Na escola, os professores e auxiliares lidam com muitas crianças ao mesmo tempo e não faz parte dos seus deveres dar educação às crianças.


4. Aplicar castigos sempre que necessário
Para que as crianças compreendam que as suas atitudes têm consequências é preciso estabelecer regras. Sempre que uma criança tiver um mau comportamento, deverá ser castigada de acordo com as suas atividades de diversão. Pode, por exemplo, cortar-se o acesso ao computador até que ela aprenda a estudar corretamente e a comportar-se na escola.




5. Atribuir recompensas nos momentos certos
Se a criança largar o mau comportamento e aguentar-se corretamente na escola, esse momento também não deverá passar despercebido. É importante que as crianças sejam recompensadas por ultrapassar os problemas de modo educado e coerente. Só assim é que terão bons exemplos.


6. Oferecer ajuda
Os encarregados de educação deverão ajudar e ensinar as crianças a lidar com os problemas de forma educada e civilizada. Só assim é que elas evoluirão enquanto seres humanos. Por outro lado, também é muito importante que as crianças sejam ouvidas e compreendidas.


7. Prestar apoio em todas as situações
É da responsabilidade dos encarregados de educação apoiar os seus educandos em todas as situações (mesmo as mais embaraçosas e desagradáveis). É importante que conheçam os professores, os colegas e amigos das suas crianças para que compreendam completamente o ambiente em que as crianças se inserem. É também importante ensinar que, embora outros alunos apresentem mau comportamento, os seus educandos deverão manter-se bem comportados e dar o exemplo.


De modo a que as crianças tenham um comportamento exemplar é necessário que os pais estejam a par de todos os problemas e situações que acontecem na escola. Eles não deverão recorrer à violência física e desatar à palmada para a resolução dos mais variados problemas, mas sim comunicar com a escola e com os seus educandos. No fundo, devem educar as suas crianças, dar-lhes mecanismos para lidar com os problemas e recompensá-las ou castigá-las usando a disciplina como método de controlo do seu comportamento.



Fonte: http://pequenada.com/

Quando são as crianças a cuidar dos pais.

Boa tarde a todos.

Partilho este texto e entrevista a Ana Vasconcelos, pedopsiquiatra e defensora dos direitos da crianças e que reflete uma das situações que apesar de acharmos irreal ela é bem real e acontece muitas mais vezes do que pensamos.


"Ana Vasconcelos é uma das principais aliadas das crianças portuguesas: no seu consultório passam diariamente muitas crianças em sofrimento. Nasceu em Lisboa, formou-se em medicina e especializou-se em psiquiatria da criança e do adolescente em Paris. Participou no primeiro curso de mediação familiar do CEJ (Centro de Estudos Judiciários), é um dos membros fundadores da Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica e membro da SPPS (Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde).


Também já lhe pedi conselho várias vezes, para vários artigos, mas hoje estamos sem ‘tema’. Afinal, é uma entrevista. Podemos começar por qualquer sítio. Pergunto-lhe se quer dar o mote, desafio que a pedopsiquiatra aceita imediatamente: “Muito bem. Então dou-lhe o seguinte: ‘para que os amanhãs possam cantar’, de que me lembrei a propósito de um poema da Sophia de Mello Breyner, que nos faz pensar que o dia de hoje tem de nos ajudar a que a gente se sinta esperançosa.


Temos falta de esperança, hoje?
Acho que, mais do que nunca, temos receio do futuro. Porque o presente não tem sido bom, e nós alicerçamos o futuro no presente. Uma das coisas complicadas na pedopsiquiatria é que cada vez mais se faz clínica do instante em vez de clínica da história da pessoa. Os médicos têm muito pouco tempo para os pacientes, os professores têm muitas crianças. E faz-nos muita falta um tempo de melhor qualidade que não esteja tão ameaçado por estes ritmos da competição e da funcionalidade.


Quando é que as coisas começaram a correr mal?
A partir da altura em que a sociedade industrial criou a competição e a filosofia do ‘ou eu ou tu’. Dantes, na sociedade tribal, o que reinava era o coletivo e a partilha, embora houvesse sempre quem mandava e quem obedecia. Mas esta sociedade está a gerar muitos problemas na sua competição desenfreada.


A competitividade não pode desenvolver as nossas capacidades?
Pode, se estiver inserida num plano de desafio e não num plano do ‘ou eu ou tu’. Mais do que ‘eu melhor do que tu’ devemos educar para o ‘nós melhores do que há pouco’. Curiosamente, há quem diga que os miúdos não estão a ser educados para o brio, em que se dá o nosso melhor para alcançar um objetivo. O brio não está ligado à competição, está ligado ao reconhecimento. Esforçamo-nos mais quando alguém reconhece o nosso empenho.


Mas as crianças não querem todas ser melhores do que as outras e ter tudo para elas?
Claro que sim. Isso é natural. A partir dos 12 meses o individualismo tem de dominar, porque eu tenho de saber pisar bem o chão para me sentir seguro. Mas é muito importante que nesse individualismo, que é inerente ao desenvolvimento do cérebro, exista um cuidador que comece a educar para a empatia. Que diga – Muito bem, foste buscar um rebuçado para ti, podes trazer outro para o mano? – Que saiba orientar do individualismo para a partilha.


E quando as próprias mães querem que os filhos tenham mais do que os outros?
Isso acontece porque os adultos se descentraram do seu papel de responsabilidade parental.


E qual é esse papel?
Os adultos devem ser bússolas empáticas para as crianças. A empatia tem de existir porque nós temos neurónios-espelho que têm de ser postos a funcionar. Os neurónios-espelho são aquilo que em nós reconhece o outro a partir das nossas experiências. É pela forma como eu sei dar, que eu sei me sentir no mundo. E não se trata de ser ‘boa pessoa’. Trata-se de perceber, como dizia o Adriano Moreira, que o mundo é a casa de todos os homens.


O problema é que os miúdos são hoje mais educados por ecrãs do que pelos pais… 
O que acontece é que os ecrãs não estimulam os neurónios-espelho. Quando eu olho para os olhos de alguém, olho para os olhos da pessoa porque sei que também tenho olhos. O outro é o meu reflexo. Se o outro estiver dentro de um ecrã, não existe essa convocação de determinadas memórias em que eu vou tentar perceber o que o outro sente baseado nas minhas próprias experiências. Eu posso dizer – Olha, tens o cabelo um bocadinho despenteado – ou então– Estás mesmo feia, vê lá se te arranjas. A maneira como eu coloco o outro dentro de mim vai determinar se consigo ou não construir uma relação de sintonização afetiva. Num ecrã, só temos a parte visual, e não a parte das memórias afetivas. Isto está ligado à comunicação icónico-simbólica, que é o que está a causar tanto do insucesso nas nossas escolas.


Pode explicar?
Os miúdos têm hoje muita dificuldade em chegar aos conceitos sem uma coisa concreta. Tipo: ‘A Galp? Ah, aquela coisa cor de laranja’ – em vez de – ‘A empresa que explora o comércio da gasolina em Portugal’. Ou seja, eles não têm palavras para explicar os conceitos.


Porque é que não têm palavras? 
Porque estão entupidos com imagens das máquinas. Um filme dá 18 a 30 imagens por segundo, nós só dizemos 4 ou 5 palavras por segundo. Portanto, temos que dar-nos muito mais tempo para ir buscar ao nosso dicionário as palavras com que descrever uma situação. No 11 de Setembro, quando as torres caíram, reparei nas pessoas que me conseguiam explicar bem a situação. A maioria convocava as imagens do terror, mas não conseguia descrever as imagens do seu cérebro. Como nós todos partilhávamos as mesmas imagens, era mais fácil convocar o ícone. Problema: um ícone ajuda-nos a reconhecer imediatamente as coisas, mas podemos eventualmente não partilhar os mesmos sentimentos ou opiniões, e isso gera imensos equívocos.


Estamos a caminhar para um pensamento por imagens?
Sim. Estamos a caminhar para um pensamento muito económico e simbólico. Isso ajuda na pressa com que temos de viver o quotidiano, mas não ajuda no desenvolvimento da nossa identidade narrativa. Permite sintonizar-nos mais rapidamente com o outro. Mas o nosso tempo é de egocentrismo e individualismo, é um tempo que nos afasta da nossa própria história.


Quais são as consequências de estar longe da nossa história?
Dou-lhe um exemplo. Quando eu fui a Paris fazer a minha tese de doutoramento, trabalhei com porteiras portuguesas e com mães tunisinas e espanholas. Verifiquei que os miúdos portugueses eram passivos, calados e gordinhos, enquanto os tunisinos eram alegres e ativos. E percebi que, enquanto as mães tunisinas partilhavam com orgulho a sua cultura e a sua história coletiva, as mães portuguesas viviam numa tristeza brutal e silenciosa. E eu perguntava – Então não fala sobre Portugal aos seus filhos? – e elas queriam era esquecer, estavam num estado depressivo que fazia com que inibissem verbalmente as memórias e que as incapacitava de serem mães atuantes junto dos filhos. Eram mães sem narrativas, com imensas lágrimas e uma solidão brutal. Isso hoje, felizmente, já não é tanto assim.


Porque é que a procuram hoje, no seu consultório?
Basicamente, pela desadaptação dos filhos, quer social quer escolar. E também pela não-comunicação dos miúdos, sabendo que os miúdos neste momento fazem apelos aflitivos: ou se cortam, ou deixam cartas, ou fazem desabafos nas redes sociais. Mas como as pessoas já não conversam tanto, estes sinais são mais visíveis, ou adivinhados, nem sempre há uma comunicação verbal. Às vezes é difícil estar atento. A nossa vida é difícil, Portugal é um país difícil, e portanto somos muito desviados da nossa condição de cuidadores.


Por outro lado, nunca como hoje se publicou tanto livro sobre parentalidade…
É verdade. Por um lado, desvalorizamos a intuição. Há dois tipos de pessoas: os analíticos e os intuitivos. O pensamento intuitivo ficou muito desvalorizado pelo ‘boom’ da educação. Por outro lado, tentar o que se aconselha nos livros é a mesma coisa que fazer leite-creme pela receita: aquilo nunca sai bem à primeira, é preciso treinar. E nós não temos paciência, queremos que as coisas resultem imediatamente. Outras vezes, vemos os sinais dos filhos e queremos respostas imediatas. Por exemplo, a criança amua e nós vamos a correr ao psicólogo, enquanto os nossos avós encolhiam os ombros e diziam: ‘Tem mau feitio…’


Os pais também se queixam de que os filhos não comunicam?
Dizem: ‘Mas ele não me quer dizer o que tem!’ Não: ele não consegue. Claro que ele verbaliza ‘Eu não quero’. Mas não está é a conseguir explicar. É essa ligação que importa conseguir. Porque o nosso cérebro existe para a gente lidar com a nossa imperfeição física. Todos nós somos fisicamente mal-paridos (risos). E o cérebro desenvolve-se cada vez mais para compensar esta fragilidade física. O cérebro dá-nos a opção de analisar, decidir e escolher o que fazer.


Mas os pais estão hoje muito obcecados com as crianças…
Sim. Não era preciso tanto. Acho que, neste momento, o essencial é voltar às coisas simples.


Disse uma vez que não estamos a educar para a autonomia… 
E não estamos. O pensamento pouco reflexivo faz com que as pessoas precisem muito de utilizar o material, o concreto. Dantes ligava-se aos filhos uma vez por dia, à noite. Agora pegamos no telemóvel e ligamos a toda a hora, queremos resposta imediata, somos muito impacientes. ‘Onde é que estás?’ – é a nossa pergunta constante. Ora o que é que isso interessa onde está? Se ele tiver esta ‘corda’ pequenina, não desenvolve autonomia, só desenvolve insegurança.


Houve alguma altura em que tivesse pensado ‘a minha experiência não me está a ajudar com os meus filhos’?
Houve. Quando me divorciei. Tenho três filhos, o mais novo tinha 2 anos, o mais velho, 10. Isto pode parecer estúpido, mas eu senti que seria desonesto dizer uma coisa no meu consultório e fazer outra na minha vida. Aquilo que nos dá mais tranquilidade interna é a coerência, que se consegue não pelo que se diz mas pelo que se faz, no resultado das nossas ações. Quando penso nisso, acho que sim, que consegui. Mas percebi então que não era uma supermãe.


O que é preciso hoje para sermos bons pais, embora não superpais?
Gostar de nós e gostar dos miúdos. É o essencial. Claro que isso depois implica montes de escolhas. Por exemplo, eu nunca me preocupei muito em ganhar dinheiro. Temos de saber o que queremos na vida, quais são as nossas prioridades. E temos de ser honestos com as nossas capacidades e limitações. Ainda hoje sinto, como mãe e como avó, que faço muita asneira, todos os dias. Mas sendo ateia, sempre tentei que a minha culpabilidade em relação a isso se transformasse em tentar fazer melhor.


Há maneira de escapar à culpa materna?
Talvez não. Mas cada um tem de construir o seu ‘mapa-mundi’ pessoal dentro de si. Temos de perceber que não somos imortais. Temos de pensar no nosso fim, para sermos mais humildes, porque andamos a gastar-nos em coisas que não nos dão lucro humano.


Fale-me de uma pessoa fantástica que tenha ido ao seu gabinete...
Todas as crianças são fantásticas, porque está ali tudo a começar. Eu faço de Sherlock Holmes em todas as consultas. Os miúdos que estão em sofrimento dão-nos sempre pistas e mostram-nos como somos fantásticos, nós, humanos, a pensar e a sentir. Uma coisa que me comove imenso hoje em dia é a quantidade de crianças que neste momento são cuidadoras de pais infelizes. Esta capacidade de generosidade é imensa. É claro que elas precisam que os pais cuidem delas, mas há miúdos com uma capacidade imensa de cuidar do outro no sentido de preservar os laços que unem aquela família. As crianças defendem os pais mesmo quando esses pais são disfuncionais. Isto é muitíssimo comovente. E também é por isso que nunca se deve obrigar uma criança em situação de litígio a escolher um dos pais.


Defender os pais não é uma técnica de sobrevivência?
No limite, todo o tipo de afeto é uma técnica de sobrevivência. Porque nós só conseguimos muito tarde tornar-nos autónomos dos nossos pais. Portanto, temos de garantir o seu afeto. O nosso cérebro é gregário, é de partilha, não é de um predador. Não há cérebros sozinhos. O bebé tem uma predisposição para se sintonizar com um adulto cuidador, mesmo um mau cuidador. Por isso é que muitas vezes os miúdos copiam os pais mesmo em situações negativas. Mas isso não os torna menos comoventes.


Voltámos aos amanhãs que cantam?
Voltamos sempre. Estamos em tempos muito escuros, mas acredito verdadeiramente que, se soubermos procurar, há sempre uma luz que vem ao nosso encontro."


Fonte: Activa.sapo

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Concurso de Fotografia para jovens Europeus

"Viajar está nos teus planos? E se for de forma gratuita? Se estás interessado, é simples! Basta teres uma lente à mão, reunir os requisitos e participar. Podes ganhar duas viagens: a primeira será a Salónica, para visitares o Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (CEDEFOP), em novembro, e, a segunda, a Bruxelas, no âmbito da primeira semana europeia de competências profissionais, agendada para dezembro.

O tema da competição, organizada pelo CEDEFOP, é “os jovens na formação profissional” e as fotografias deverão retratar como estes se veem no seu ambiente escolar ou de aprendizagem em contexto de trabalho.

Para participares necessitas de ter uma conta na rede social Instagram, com perfil público, e de seres cidadão da União Europeia, com idade entre os 18 e os 30 anos.
O concurso decorre até 11 de setembro e cada concorrente pode submeter até um máximo de três fotografias, acompanhadas do hastag‪#‎CedefopPhotoAward‬.

A primeira semana europeia das competências profissionais, que decorre de 5 a 9 de dezembro, é organizada pela Comissão Europeia, com o envolvimento do CEDEFOP e da Fundação Europeia para a Formação, tendo por objetivo inspirar as pessoas a descobrirem e usarem o seu talento através da formação profissional."




Fonte: ANQEP - Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional

Estatísticas da Educação em Portugal: Alunos

Já se encontra disponível para consulta o relatório estatístico relativamente à Educação em Portugal, relativamente ao número de alunos.

No relatório poderá observar o número de alunos matriculados por nível de educação e ciclo de estudos, a distribuição dos alunos matriculados no ensino secundário por modalidade de ensino, dados relativos a docentes e não docentes assim como dados estatísticos relativos a estabelecimentos de ensino.

Consultar relatório completo aqui.




quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O Conto Infantil e a arte de contar

Acabei de ler esta entrevista que acho muito boa, e como venho defendido mostra bem a importância do Conto para as Crianças.



Transcrevo então, a entrevista publicada no AbrilAbril:
Cristina Taquelim dedica a sua actividade profissional à promoção da leitura e à arte de contar. Co-organizadora do conhecido encontro internacional «Palavras Andarilhas» – que este ano o Município de Beja e a sua Biblioteca promoverão, uma vez mais, entre os dias 25 e 28 de Agosto –, é também autora de livros para a infância. Tudo boas razões para uma conversa.



Continua a dar-se, quase por inteiro, à promoção da leitura no concelho de Beja, como uma espécie de braço-armado-de-livros da Biblioteca, que percorre escolas, instituições, lugares diversos. Ultimamente o seu trabalho alarga-se aos mais idosos. É possível pô-los a ler, ou pelo menos a manterem-se activos e a viverem num ambiente de literacia? Qual é o seu propósito principal, nesse âmbito?

A minha vida profissional está profundamente marcada pelo trabalho que desenvolvo desde 1988, no concelho de Beja, enquanto técnica da Divisão de Bibliotecas e Museus do Município.

Tive o privilégio de integrar desde a primeira hora a equipa do Figueira Mestre e contribuir para a estratégia que desde sempre norteou o nosso trabalho: «Uma biblioteca ao serviço do leitor». A promoção da leitura sempre foi a minha área de intervenção, dentro da organização, procurando caminhos e sentidos, coordenando uma pequena equipa que se foi qualificando para cumprir aquele que creio ser o grande desígnio das bibliotecas: «Criar e alimentar comunidades» (não é minha a frase, mas sei que a ouvi algures).

Em 2009, o Município lançou um novo programa de Leitura em Meio Rural que permitiu melhorar a resposta às comunidades rurais e integrar alguns projectos junto de novos públicos. Ampliando trabalho junto de grupos em situação de isolamento e exclusão social, apostando numa intervenção regular e continuada. É esse o contexto do projecto «Conversas Andarilhas» que desde 2009 se desenvolve junto de grupos de idosos e que ganha novo fôlego, a partir de 2012, graças a um projecto apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Esta linha de trabalho desenvolve-se na base de encontros regulares com grupos de idosos, em que se conversa em torno de livros, contos, mas sobretudo histórias de vida. São momentos importantes de quebra de isolamento, de estimulação cognitiva, de valorização da memória e identidade destes homens e mulheres. Tentamos trabalhar cruzando o oral e o impresso, os textos da cultura popular com os da esfera literária, as memórias do vivido com as memórias do ficcionado. As competências leitoras de cada grupo, o seu grau de autonomia, a história de cada um dos seus elementos são os pontos de partida. A eles junta-se a capacidade relacional de cada dinamizador. Estamos a falar de um trabalho de relação que assume uma natureza ora mais performativa, ora mais participada, mas sempre centrado na palavra, na imagem, no livro. Temos quem leia romances, quem prefira o Almeida Garrett ao Mário de Carvalho, quem leia almanaques, bíblias, páginas de poesia dos jornais locais, quem só goste de biografias e também quem não leia nada e apenas venha para estar à conversa.

Conversamos muito sobre o que sabemos, pensamos e sentimos e ficamos surpreendidos com a maneira como os escritores falam do mundo: como o Manuel da Fonseca contou, em Seara de Vento, a história do Cantinho da Ribeira, como a Isabel Minhós Martins fala do Alqueva no livro O que vês dessa janela, como o António Mota fala desses Outros Tempos ou dos dramas de A Casa das Bengalas. Partilham-se memórias em torno de romances, adivinhas, adágios, trava-línguas escutados na infância. Identificamo-nos com as descrições de Eduardo Olímpio sobre os bailes e funções na serra. Lemos poemas e conversamos sobre as letras de fados e canções. Há quem só venha cantar. Há quem apenas siga a sessão com os olhos por incapacidade motora de comunicar. Cantamos muito para espantar tristezas e medos.



A Biblioteca de Beja, com todo o seu savoir faire, Cristina, prepara-se para, uma vez mais, pôr de pé o encontro «Palavras Andarilhas» – que se tornou uma espécie de imagem da marca da cidade e o principal pólo português da arte de contar e ouvir contar. Quer partilhar connosco algumas notícias frescas?

Um savoir faire, como sabem, feito de muitas cumplicidades e da permanente procura de sentido para este projecto. Ele reflecte o trabalho da biblioteca e sinaliza o caminho para os anos seguintes. Contar e ouvir contar constitui o centro das Andarilhas, mas elas sublinham a importância do trabalho com a palavra nas suas múltiplas dimensões, oferecendo-se como um espaço de aprendizagem e troca de experiências de muitos mediadores de leitura que trabalham nas redes de leitura portuguesas. Do programa deste ano, que se desenvolve entre 25 e 28 de Agosto, destacaria, como temas de fundo, as questões do maravilhoso na tradição oral, a mediação da leitura na infância e juventude, sublinhando alguns géneros menos discutidos e que parecem constituir-se como boas ferramentas para os mediadores: poesia e micro-ficção. As conferências, tertúlias e oficinas cruzam-se com um novo projecto, Festival de Contos do Mundo, que contará com a presença de um bom painel de narradores nacionais e estrangeiros. O Jardim Público será nestes dias o coração da cidade dos contos, mas a oferta de actividades expande-se pelo centro histórico da cidade e freguesias rurais.

Qual continua a ser para si o principal sentido do contar e ouvir contar?

Independentemente da idade, do contexto, das competências e saberes, contar é a arte da relação. Posta ao serviço de uma estratégia de promoção de leitura, ela serve o desenvolvimento da linguagem: veja-se o papel das adivinhas no desenvolvimento de processos de antecipação leitora, das lengalengas no desenvolvimento da consciência fonológica, dos contos cumulativos e outros, na construção de esquemas narrativos. Contar e ouvir contar constitui um espaço e um tempo de reflexão sobre as metáforas do mundo e da vida, mapeando valores, emoções e afectos. Ouvir contar apoia o desenvolvimento da escuta e da memória, sem as quais não existe aprendizagem, bem como a organização de enunciados orais, de mecanismos expressivos.

Mas contar e ouvir contar também são apenas lazer, fruição, colo e embalo.

É por causa desse mesmo sentido que passou à escrita, com livros sobretudo para os mais novos, como Malaquias (RHJ, 2007), Na minha casa somos sete (Pé de Página Editores, 2009), Uma casa na Lua (Paulinas Editora 2011), Corrupio (Editora Lê, 2013)?

Nasci numa casa de palavras e sempre escrevi muito e irregularmente, para a gaveta e mais tarde por necessidades de profissão. As minhas discretas incursões no mundo da edição surgiram por curiosidade e incentivada por aqueles que me amam. Fracos motivos para editar, como vêem. Suponho que o facto de ter uma forte relação com a oralidade e com a literatura para a infância também tenha influenciado. Em quase tudo o que publiquei está presente aquilo que eu sou, aquilo que penso, e fi-lo com verdade. Às vezes os textos são apenas brincadeiras de dizer, encontro-lhes hoje muitos defeitos e outras tantas virtudes, algumas até ao revés do cânone literário. As histórias rimadas da minha avó são uma voz de fundo de quase todos os textos. A minha história, também a leitora, fez o resto.

E Corrupio, o mais recente, editado no Brasil, o que é? Diga-nos nas suas palavras.

É um pequeno álbum, ilustrado pela Elisabeth Teixeira e publicado pela editora brasileira Lê, que contou com o apoio da DGALB. Uma história sobre o desejo e onde ele nos leva. Uma metáfora sobre a descoberta da vida, sobre o amor. Está «prescrito» – ironizo – para pré-leitores, mas a leitura em voz alta apenas do texto pode oferecer uma recepção interessante junto de outros públicos.

Em sua opinião, este mundo perigoso, socialmente injusto e desigual, em que estamos a viver, reclama o contar e o ouvir contar?

O mundo nunca foi justo e está cada vez pior! – dizia no outro dia, do alto dos seus 90 anos, uma leitora de biografias. Os contos dão-lhe razão. Veja-se os textos do património imaterial, cantados e contados, sobre pobres e ricos, mulheres e homens, sábios, espertos e parvos, justos e prepotentes. Se os instrumentalizarmos ao serviço de didactismos excessivos, se os desligarmos da geografia de vida do contador, se os limparmos do sangue e das lágrimas, os contos servirão para pouco. Os contos oferecem-se como matrizes, arquétipos, portas de acesso ao simbólico, ao maravilhoso, e o mundo precisa de religar-se com a sua raiz, reforçar a sua identidade para não temer o outro, o mundo precisa de se ficcionar, sonhar.

Precisamos de ouvir, mas precisamos muito de nos contar: contar para organizar os dias, para nomear o inominável. São múltiplas as formas de ter voz social e pôr essa voz ao serviço do outro. O trabalho de mediação da leitura deve possibilitar a criação de condições para a descoberta destes e de outros instrumentos expressivos. Deve facilitar os códigos de acesso às representações do mundo, para que cada um possa escolher em liberdade.



Fonte:http://www.abrilabril.pt/cultura

A hiperatividade e o Défice de Atenção

Aqui fica a entrevista a Luís Borges, Neuropediatra, sobre a hiperatividade nas crianças e o défice de atenção.


Encurtava as aulas, multiplicava os intervalos, mudava as metas curriculares, dava aos professores mais formação na área das neurociências e garantia aos miúdos mais tempo para brincar. Se pudesse, o neuropediatra Luís Borges mudava a escola. E medicava muito menos.



Ainda existem «bichos-carpinteiros» e «cabeças-no-ar»?
Sempre existiram e sempre existirão. A perturbação da hiperatividade e défice de atenção [PHDA] tem uma base genética: as crianças herdam dos pais os genes que vão condicionar este tipo de comportamento. O que acontece é que, depois, o ambiente pode facilitar ou dificultar o aparecimento dos sintomas – a hiperatividade, a impulsividade e/ou défice de atenção.


A hiperatividade traz sempre associado um défice de atenção?
Julgo que sim, só que na criança mais pequena, que parece ter pilhas Duracell, o que chama mais a atenção é a hiperatividade. Mas com a idade isso vai melhorando. A hiperatividade é o primeiro sintoma a desaparecer, e fica a impulsividade e o défice de atenção.


E o contrário pode acontecer? Um miúdo pode ter apenas défice de atenção, sem nunca ter sido hiperativo?
Essa é a face mais desconhecida da PHDA, mas que na realidade corresponde de 20 a 25 por cento dos casos. São crianças que são até hipoativas, digamos assim, mas que têm défice de atenção. Chamam-lhes day dreamer ou criança sonhadora. Na sala de aula, estão lá, mas não estão. São situações mais complexas e para as quais é preciso alertar pais e professores. Desde logo, porque são crianças socialmente mais tímidas, com maior tendência para o isolamento, para a ansiedade e até a depressão. E depois, porque, estão quietinhas e não perturbam, o problema passa despercebido, muitas vezes só é detetado mais tarde.


… quando surgem os problemas de aprendizagem.
Sim. Sempre que uma criança tem fracos resultados escolares, é preciso saber porquê. Pode ter um certo atraso no desenvolvimento, mas a maior parte das vezes tem na verdade problemas de outra ordem, como os do défice de atenção ou as dislexias.




Com que idade chegam os miúdos às suas consultas?
Os hiperativos, por norma, começam a ter problemas no primeiro ano da escola. Até lá, apesar de serem crianças muito ativas, passam muitas vezes despercebidas. Os problemas surgem quando têm de estar sentados a uma secretária das 09h00 às 17h30…


Passam tempo de mais na escola?
Sim. Dizem-me: «Ah, mas a partir das 15h00 são atividades extracurriculares…» É mais do mesmo. Os professores de Música e de Inglês também lhes exigem que estejam com atenção e vão avaliá-los no final. A PHDA tem uma base genética, mas ter começado a exigir-se demasiado dos mecanismos da atenção não ajuda. Eu até acharia bem que a escola retivesse as crianças até às 17h30, porque isso facilita a vida dos pais. Mas esse tempo deveria ser preenchido com tempos livres. Ter um animador na escola e permitir que a criança jogasse à bola, brincasse, fizesse teatro, cantasse… o que lhe apetecesse. Não sou contra a Música ou o Inglês. Mas das 09h30 às 15h30 a criança devia ter tempo para todas estas aprendizagens, curriculares e extracurriculares. Como não sou contra os trabalhos de casa, mas acho que são de mais e podiam ser substituídos por atividades de leitura. As crianças precisam de brincar – e não têm tempo para isso.


Seria preciso mudar a própria escola.
Há algumas coisas que não têm que ver com a escola. Uma delas é o sono: as crianças devem dormir nove a dez horas por noite. Uma criança que dorme pouco tem dificuldade em concentrar-se e grande parte da nossa memória de longo prazo é feita durante o sono. Depois, há o desporto: a atividade motora liberta substâncias que relaxam, o que vai facilitar a aprendizagem. E há outra coisa importante: o uso exagerado dos tablets e dos telemóveis. Porque a atenção que se usa num jogo de computador é totalmente diferente da que se utiliza para ler e compreender um texto, e as crianças vão habituar-se àquele tipo de atenção… Tudo isso, eu digo aos pais. Mas sim, seria sobretudo importante mudar escola, mudar os programas, aliviar os professores da pressão das metas curriculares… Aos seis anos, é o currículo que deve encaixar na criança e não o contrário.


O que está errado nos programas e nas metas do 1º ciclo?
A velocidade com que as crianças têm de dominar a leitura, por exemplo. Os dois primeiros anos devem ser para aprender a ler. Para depois a criança poder passar a ler automaticamente e a compreender. Mas não. Se ao fim do primeiro ano o miúdo não está a ler vai começar a ter problemas e começa o seu insucesso. E depois a exigência da matemática, do cálculo… Nós aprendíamos coisas no sexto ano que hoje são dadas no quarto e o cérebro dos miúdos não melhorou de um dia para o outro. Há coisas que não estão de acordo com as capacidades das crianças. Eles conseguem, mas com grande esforço, grande stress e sem alegria. Ao nível do cérebro, quando a criança faz uma conta bem feita e tem sucesso, é libertada uma substância que gera bem-estar, a dopamina. Já o insucesso liberta as hormonas de stress, a adrenalina, que muitas vezes bloqueiam a capacidade de raciocínio. Se a criança tem medo de errar, não está em boas condições para aprender. Depois, o stress acumula-se e a motivação que é o motor para aprender não existe, a escola torna-se «uma seca».


É isso que vê nos miúdos que chegam à consulta?
Sim, miúdos stressados, muitos com problemas de sono, que muito frequentemente choram para ir para a escola, com medo de falhar… Nas crianças com PHDA isso acontece muito. Até porque outra coisa que tem que ver com os défices de atenção, que não está nas classificações internacionais, mas que devia estar, é a parte emocional. São miúdos emocionalmente frágeis, que lidam mal com a frustração, com as emoções – e muitas vezes com problemas sociais. Os colegas não os suportam porque, mesmo nas brincadeiras, não se pode contar com eles. Estão à baliza e quando o outro chuta, eles estão pendurados na trave… Querem corresponder às expetativas dos outros, mas não conseguem.


E por é que não conseguem?
No nosso sistema nervoso, aquilo a que chamamos a função executiva – que nos permite organizar, planear, executar e monitorizar o que fazemos durante o dia –, começa a desenvolver-se lentamente, amadurece e está na sua plena funcionalidade por volta dos 20 anos. E nessas crianças, o que acontece é que essa função está desenvolver-se mais lentamente, às vezes com três ou quatro anos de diferença em relação ao padrão.



Quais são as implicações práticas da imaturidade dessa parte do cérebro?
O sistema que regula as atividades que fazemos no dia-a-dia, que é o que nos permite falar enquanto conduzimos, de forma automática, por exemplo, não está a funcionar. E isso faz que falhe a autorregulação – o professor tem de lhe dizer 20 vezes para se virar para a frente. Além disso, implica com aquilo a que chamamos memória de trabalho, ou de curto prazo. Se o professor disser: «Agora abram o livro na página 23 e vão à linha nº 14 procurar quantos verbos estão no infinito…», o miúdo com défice de atenção ficou com a primeira informação, o resto já se apagou. Ele não consegue pôr na memória de trabalho essa informação toda. O professor tem de dizer-lhe o número da página, deixá-lo abrir o livro, depois indicar-lhe a linha, esperar que a encontre, e só depois explicar o resto.


Porquê?
Os miúdos com PHDA ou dislexia têm uma memória de trabalho curta. Se lhes for dado um problema de matemática, em que eles têm de primeiramente somar, para depois subtrair e dividir, eles têm de o fazer por partes. Se lerem o enunciado todo de seguida, ficam completamente perdidos… e vão responder à primeira coisa que lhes vier à cabeça. A memória de trabalho é fundamental para a aprendizagem – e fala-se muito pouco sobre isso. Os professores deviam ter mais conhecimentos sobre neurociências e a sua importância
nos processos de aprendizagem.


O sistema agrava o problema das crianças com PHDA, é isso?
O problema da PHDA tem uma base genética. Ou seja, mesmo que tudo isto fosse melhorado, continuaria a haver défice de atenção. Mas seriam menos os casos, porque se estaria a respeitar mais o ritmo de amadurecimento das estruturas cerebrais – e, muito provavelmente, haveria também menos crianças medicadas. Porque hoje em dia é fácil: a criança mexe-se muito, a professora já sabe que há um comprimido que faz que ele fique quieto, insiste com os pais… e os médicos acabam por entrar nesse jogo. Eu próprio faço isso.


Medica-se de mais para a PHDA?
Pela falta de conhecimento do que é a PHDA e de como se pode ajudar as crianças desde cedo a melhorar, medica-se demasiado, não tenho dúvida nenhuma. Se a escola não exigisse tanto, se a criança não estivesse tanto tempo na sala de aula, se pudesse ir mais vezes ao recreio, se tivesse períodos mais curtos de atenção, provavelmente as coisas podiam funcionar melhor… mas isso não acontece. E aí ficamos sem alternativa, porque ou se medica aquela criança ou ela vai ter insucesso escolar.


É uma decisão difícil…
Como os défices de atenção são uma epidemia nacional, eu acho que o assunto devia ser mais debatido e só se devia medicar mediante critérios bem definidos. Mas é preciso dizer que estamos a falar de uma medicação que em 80 por cento dos casos é eficaz e que é bem tolerada, sem efeitos colaterais. Eu próprio a tomo, aos 78 anos, todos os dias.


Utiliza o seu exemplo quando fala com os pais e com os miúdos em consulta?
A dislexia e o défice de atenção estão ligados muito frequentemente, há uma percentagem grande de crianças que têm os dois problemas – e é o meu caso. Fiz o meu próprio diagnóstico a posteriori. Quando era miúdo, o que havia era «bichos-carpinteiros» e eu era um «cabeça-no-ar». Sofri o estigma… Perdi dois anos no primeiro ano da escola primária e só à terceira é que passei. Depois, mais tarde, já na faculdade, voltei a ter problemas com a anatomia, com os nomes em latim… Conto muitas vezes isto, sobretudo aos miúdos, para eles perceberem que «o doutor», que chegou a médico e foi diretor de um serviço no hospital e essas coisas todas, perdeu anos na escola. Digo-lhes que acreditei sempre – «Eu sou capaz de chegar lá, porque sou inteligente.» E explico-lhes que é isso que eles têm de fazer, que o importante é ter confiança de que se vai conseguir.


No seu caso, o défice de atenção permaneceu na idade adulta.
A PHDA nem sempre desaparece. Afeta nove por cento das crianças, oito por cento dos adolescentes e quatro por cento dos adultos.


Isso significa que também medica alguns pais?
Frequentemente, cada vez mais. Lembro-me de um pai que estava sentado com o filho e às tantas pediu para se levantar, deu uma volta à secretária, sentou-se, depois levantou-se outra vez e encostou-se à parede. E eu a ver toda aquela atividade… Acabou por perguntar se eu não achava que a medicação lhe faria bem a ele também e eu disse-lhe: «Tenho quase a certeza que sim.» O pai tinha défice de atenção e era um pouco hiperativo. A mãe sabia. Até já tinha deixado cair…: «Senhor doutor… tal pai, tal filho!»




Fonte: NoticiasMagazine

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Alunos do Ensino Recorrente poderão concluir o secundário a partir de casa

É já a partir de Setembro, do próximo ano letivo, que irá ser lançado o projeto piloto para o qual os alunos do ensino recorrente poderão concluir o secundário a partir de casa com aulas online.



As modalidades da extensão do ensino à distância ao recorrente estão ainda a ser definidas pelo Ministério da Educação (ME), mas o objectivo é que este projecto-piloto arranque já em Setembro, segundo a informação veiculada pelo ME no anúncio em que dá conta do início do processo de elaboração da legislação necessária para esse efeito.

Em resposta ao PÚBLICO, o gabinete de comunicação do ME justifica esta opção pelo facto de muitos dos adultos que escolhem o ensino recorrente acabarem por “desistir do curso por incompatibilidade de horários”. O ensino secundário recorrente destina-se a alunos com idade igual ou superior a 18 anos.

Segundo o ME, esta nova forma de concluir o recorrente “funcionaria em moldes semelhantes ao funcionamento actual do ensino à distância para alunos de famílias itinerantes”, que tem como escola sede a secundária Fonseca Benevides, em Lisboa. Esta modalidade também já foi alargada a filhos de emigrantes, a mães adolescentes e aos participantes do programa Escolhas, destinado a jovens de meios carenciados.

O ensino à distância funciona através de uma plataforma digital, constituída por salas de aula virtuais, sendo que o contacto com os professores faz-se por via de fóruns na Internet. Também estão previstos contactos presenciais na escola sede do ensino à distância ou nos estabelecimentos onde os alunos se inscrevam. A avaliação também é feita presencialmente e obedece às mesmas regras das estabelecidas para os alunos que frequentam as aulas.



O ensino recorrente, que chegou a ser oferecido sobretudo por colégios, foi muito procurado como forma de garantir médias elevadas de candidatura ao ensino superior, o que levou o ex-ministro da Educação Nuno Crato a mudar as regras de avaliação destes alunos que pretendam prosseguir estudos, equiparando-as às dos estudantes do ensino regular. Nesta modalidade de ensino, que é feita por módulos, e que foi eleita pelo Governo anterior como prioritária no ensino de adultos, os alunos que não queiram prosseguir estudos no superior podem concluir o 12.º ano sem realizar os exames nacionais do secundário.

Em 2014/2015, último ano com dados, estavam inscritos no recorrente cerca de dez mil alunos. O ME indicou que, a prazo, espera substituir esta oferta por novos cursos de educação e formação de adultos, de cariz profissionalizante, que tinham sido praticamente desmantelados pelo anterior Governo.


Fonte: Jornal "O Público"

domingo, 7 de agosto de 2016

Os 10 princípios básicos de Montessori (para usar com seu filho em casa e na vida)

Numa escola com base no modelo de Montessori há alguns princípios fundamentais:
  • “Seguir a criança” Este é o princípio mais importante e deve seguir-se a criança em qualquer idade, devemos respeitar e honrar o interesse e a necessidade de cada uma de nossas crianças.

  • Dar seu filho liberdade de explorar em espaços os fechados ou abertos da mesma forma, sempre que for seguro e utilize esta liberdade de maneira positiva.
  • Dar a seu filho a oportunidade de usar as mãos tanto quanto seja possível. Seu filho deve estar exposto a todas as experiências concretas que tenham a ver com o uso de suas mãos para depois chegar a abstração de conceitos.
  • Promover todas as possibilidades para que seu filho possa nas rotinas da casa: regar as plantas, lavar a louça, arrumar brinquedos, organizar sua mochila, servir-se e comer apenas com a ajuda necessária, encher seu próprio copo para beber água. E se for maior, pode responsabilizar-se por alguma tarefa da família. Estas oportunidades promovem a a coordenação, a concentração, o sentido de ordem, a responsabilidade, a noção dos cuidados pelo bem estar comum, a independência e no aspecto cognitivo, preparam a mente matemática e apoiam o desenvolvimento da linguagem.

  • Dispor de utensílios adequados ao tamanho da criança, objetos para pequenas mãos , quando são pequeninos. Guarde-os em local onde teu filho possa ter acesso, para que possa usá-los na medida da sua necessidade (copo, prato, talheres, pequenos recipientes para os bolachas, jogo americano).
  • Não interromper os “ciclos de trabalho” de seu filho – suas brincadeira ou jogos. Dar oportunidade de ir construindo a períodos cada vez maiores de concentração.
  • Mostrar-lhe “como”. Quando não souber como usar algo faça uma demonstração com sequência de passos .Use movimentos lentos e precisos.

  • Que o ambiente que o rodeia seja organizado e atrativo. A ordem externa promove a a ordem interna e o desenvolvimento da inteligência.
  • Quando for falar com seu filho aproxime-se dele, baixe-se, mantenha o contato visual, fale num tom de voz apropriado. Quando as pessoas se olham nos olhos a verdadeira comunicação se estabelece.
  • Lembre-se sempre do que diz Montessori : “Ajuda-me a fazer sozinho!” Esta é a máxima que pode representar a essência do Sistema Montessori, ajudar a criança na medida certa . Deixá-la fazer sozinha o que é capaz . Segui-la e instigá-la a percorrer novos caminhos, apoiando quando for preciso, respeitando em cada um o seu próprio ritmo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry - Audio e Peça de Teatro

Este ano letivo despedi-me da minha turma de Ermidas C, com um frase da obra "O Pequeno Príncipe", de Saint-Exupéry. Uma das citações que mais utilizo e que reflecte bem o sentimento da despedida:

"Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós".


Esta é uma obra das mais aclamadas e também muito indicada para os nossos jovens (e não só), uma obra que aconselho vivamente.
Entretanto, sei que muitos não têm muita vontade de ler, e por isso mesmo deixo aqui  o ficheiro Audio, para poderem ouvir a adaptação da obra.



Aqui fica esta ideia educativa de entretenimento para estas férias...

Para quem optar por uma adaptação Teatral da História:

 

Infelizmente ambas estão em português do Brasil, pois não consegui encontrar em Pt de Portugal.

Boas Férias!!!



quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Boletim 9, dos Clubes Europeus

Já se  encontra disponível para consulta o Boletim 9, dos Clubes Europeus. 
No mesmo são divulgado projetos, temas e atividades desenvolvidos pelos Clubes Europeus de todo o país, assim como os acontecimentos mais marcantes a nível nacional e internacional.